terça-feira, 29 de maio de 2007

Superstições e Superações



Grêmio (4) 2 x 0 (2) Defensor Sporting – 23 de maio de 2007.


No futebol é importante – fundamental pode-se dizer – ter algum tipo de superstição. Digo isso, pois quando nos deparamos com algumas situações e vemos uma pequena parcela de chances de superá-las, é preciso se sustentar em algo vindo do imponderável. Daquilo que se tem certeza que no mundo real não funciona, mas que para nós naquele momento nada mais importa senão for permanecer em determinado lugar ou segurando a camisa com uma mão ou outra, ou outro tipo de ritual que, quando vimos que funciona pensamos: “Vou fazer isso até o fim”.
Isso tudo foi para (tentar) exemplificar o que aconteceu na última quarta-feira no jogo de volta das quartas-de-final da Taça Libertadores da América. Nesse jogo foi testada não só a tal imortalidade e capacidade de superação do time, como também a resistência clínica dos torcedores que provaram estar juntos a todo o momento. Não é qualquer dia que um estádio recebe mais de 42 mil pessoas numa quarta às 19h15min. Enfim, estes e mais os milhares que corriam ou de casa (meu caso) ou de escolas, ou de trabalho para algum bar legal para assistir à partida. Poucas vezes a ansiedade bateu tão forte a nós porque afinal de contas esse foi o primeiro jogo dessa competição no qual não marco presença no estádio. Muito devido ao horário e por conseqüência sem chances de companhias, porque nesses jogos, afinal de contas, não se pode ver sozinho. A “corrente pra frente” fica comprometida. Portanto a fizemos, porém em um bar na Avenida Goethe em Porto Alegre, lugar no qual descobrimos na grande final contra o Juventude que é o melhor para se acompanhar grandes jogos.
Bem, chegamos cerca de quinze minutos antes de começar a decisão e vimos nesse meio tempo o bar lotar completamente e a calçada no lado de fora também. Nota-se o quanto de correria pode gerar um evento que começa mais cedo do que o habitual. A confiança era intacta em uma reversão de resultado e isso começava a ficar palpável nos primeiros minutos. O que me tranqüilizou mais foi o fato de termos conseguido uma mesa bem em frente e próxima ao telão. Isso pode ser um detalhe insignificante pra você, mas pra mim isso contou muito também, já que no primeiro jogo vimos beeem do fundo e ficamos sem mesa e com condições adversas o Grêmio perdeu. É um tanto estranho ver a partida em um lugar que não seja o estádio, ou lugares onde se esteja mais acostumado. Mas a escolha foi boa, isso eu asseguro.
Quando a pressão se encaminha para algo mais forte uma falta é cobrada da intermediária por Tcheco e se ouve um “feitoo!!” da rua dois segundos antes de ela entrar. Explosão geral, sem trocadilhos com a maior torcida (des)organizada do Brasil. E o que se vê daí em diante é uma pressão quase que acachapante do tricolor em busca da igualdade no confronto de 180 minutos. E depois de várias investidas frustradas no último detalhe ela enfim chega após falta cobrada da direita. A bola é espanada pela zaga uruguaia e sobra na intermediária de ataque. De Patrício para Sandro e dele sai um passe fruto de uma visão digna dos grandes meio-campistas para Teco, o nosso zagueiro que tal qual um centroavante a dominou e no momento certo tocou entre as pernas do goleiro Martin Silva que já se destacava a aquela altura. 2 x 0. Pronto. Nesse instante entre pulos e gritos virei para meus amigos e disse: “Agora é outro jogo!”
Não cheguei a estar errado, mas se realmente soubesse o sentido da palavra ‘outro’ confirmado na segunda etapa, talvez tivesse reformulado a frase. Aí entram as tais teses referentes à superstição. Qualquer uma valeu nessa hora. O jogo complicou afinal de contas o Defensor mostrou suas garras e tentou armar botes mortais sem contar com um reforço inigualável. O juiz Carlos Amarilla. Veja bem, além das tradicionais faltinhas ocasionais que trancam o jogo por trancar e daquelas invertidas sem nenhum nexo, houve ao menos DOIS pênaltis cla-ros cometidos pelos uruguaios sendo um deles gritante em cima de Carlos Eduardo. Como se não bastasse, poucos minutos depois o jogador do time violeta avança com a bola até a intermediária, ajeita pra canhota e dispara. Como um morteiro ela explode no travessão de Saja, quica e sobe para um rebote frustrado do ataque deles. Nesse instante ficamos todos congelados, quiséramos nós fosse somente pelo frio. Depois daí tive a certeza de que eles não fariam gol. Lesões ocasionais e a tal tensão, que a essa altura era preponderante inclusive em campo, dificultaram maiores ações ofensivas fazendo com que o jogo acabasse 2 x 0 e eu louco de raiva com o juiz. Não só eu na realidade.
Veio então a tal angústia na qual é sempre indesejada por qualquer torcida. Os pênaltis. Dizem uns, ser loteria, outros dizem por sua vez que são fruto de mera competência. A verdade é que é um misto de tudo, incluindo toda e qualquer figa que se faça. Meus dois amigos ficaram de pé antes da primeira cobrança. Já eu quis ficar sentado na cadeira. Em comum todos beijávamos as camisas. Veio a primeira cobrança do Defensor e.....................bola no travessão. Nova explosão. Daí então ficaram definidas as nossas condutas durante as demais cobranças. Eu sentado e concentrado e eles de pé, todos no mais alto grau de tensão e sintonia. Uma corrente única formada com intensidade sem capacidade de medição. Daí veio o primeiro gol gremista no pênalti. Não foi muito bem cobrado, mas valeu. Então a segunda cobrança uruguaia veio e a bola subiu e sumiu. Nova festa. Então veio nosso segundo gol e então eles começaram a acertar até que Douglas bateu e foi a melhor de todas as cobranças. Ali a classificação era clarividente. E mesmo com o segundo gol dos uruguaios encostando no placar, vai Ramon e bate com calma e classe no ângulo. Festa agora consumada. Grêmio classificado e todos os rituais supersticiosos aplicados deram resultado. Mais uma vez nossa festa ganha ar de nobreza por mais uma proeza conquistada. Vamos agora para as semi-finais contra o Santos e mesmo com a noite gelada, valeu à pena voltarmos pra casa entoando os cantos da nossa torcida mesmo com o ar gelado vindo das ruas. Seguimos firmes, fortes, aguerridos e bravos rumo ao nosso sonho.
*Trilha do dia -> Gal Costa - Divino Maravilhoso // Television - Glory

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