domingo, 6 de maio de 2007

PRÓXIMO DO PARAÍSO – ou Dando a Morta (parte 2)


Outra noite adentrava recheada de expectativa no nosso rincão. Só que dessa vez era repleta de um clima mais nebuloso (não pelo emocional, mas o ambiental mesmo), úmido, com uma leve chuva caindo. Era nesse cenário tipicamente londrino no qual fomos testemunhar mais uma decisão do nosso tricolor, agra contra o guarani Cerro Porteño. O resultado necessário era uma vitória simples. Mas o que é simples na vida do Grêmio? Podemos dizer que o que houve de mais simples pra nós foi a nossa preparação para a ida, regada a doses de licor de coco e posteriormente cerveja com Dreher. Sim, o efeito foi (muito) positivo e sem seqüelas sérias. Foi um daqueles “aqueces” que só tornou mais animado o ‘antes’ do jogo.
Nessa altura já tinha parado a chuvinha. A chegada ao estádio foi uma das mais entusiasmadas que já presenciei. E para completar o ônibus da delegação chega bem naquele momento ao estádio. Valeu a correria pra dar aquela força a mais na chegada. Nisso quando éramos 3, viramos 4 com a chegada de um amigo de meu amigo, que junto com seu pai fechava o quarteto. Confundiu? Tudo bem, isso é só um detalhe mesmo. Nisso a entrada no estádio também foi bem tranqüila, e creio que as futuras também serão, pois foram postas estruturas metálicas para delimitar filas. Agora tem fila para mulheres, para crianças, para idosos, sócios, não-sócios, enfim. Era algo necessário. Ocupa mais espaço, mas azar. Isso é o que não falta no acesso ao Olímpico. De minha parte está aprovadíssima a medida. Isso acelerou o acesso em aproximadamente meia-hora......suponho.
Lá já nos deparamos com os setores se formando para o grande jogo. Por sugestões e um incrível apelo emocional, acabamos nas imediações da Geral. Estávamos sendo bem abastecidos ali, afinal já dizia uma canção que “uma cerveja é muito bom pra ficar pensando melhor”. Suprimi quando diz “antes do almoço”, mas troquemos por “antes do jogo”; mais de acordo. Quando nos damos conta, o espaço correspondente à torcida já estava todo tomado por um pessoal preparado para a celebração desse espetáculo popular chamado futebol.
O mais bacana disso tudo é que junto da “gurizada” estava o pai de meu amigo, que acompanhou todo o ímpeto do pessoal; as canções, enfim, tu-do!!! Eis que a hora do jogo chega e não é de graça que aquele espaço atrás da goleira à esquerda das cabines é o espaço do estádio mais vigiado e ao mesmo tempo exaltado. Já a mais de uma hora antes da partida a Geral já entoava os cantos e dava o devido clima ao palco do evento. O ritmo “lá-e-cá” do início em nada afetou, pelo contrário. As chances aos poucos iam surgindo e ficávamos mais confiantes no resultado necessário. Estava junto de meu radinho para acompanhar literalmente tudo do jogo. Quando o costume pega, é brabo largar. Mas tudo bem. Estávamos bem posicionados na arquibancada, já que tínhamos ficado um pouco a direita das faixas da torcida, o que nos propiciou visão total do campo. Isso foi muito importante. Eis que é dada uma falta na esquerda de ataque, quase rente à nossa posição. Expectativa forte, já sucedia cerca de meia-dúzia de escanteios quando a bola é alçada e Teco fulmina o gol com a cabeçada no segundo pau. O momento máximo ocorre, mas é abortado. O gol foi invalidado por um delírio infame do bandeirinha. Mas para o pai de meu amigo isso foi bom. Isso porque ele não conseguiria acompanhar a avalanche e meu amigo ficou o cercando tal qual um guarda-costas. Nada de mais aconteceu. Só comprometeu nossa continuidade ali naquele local, algo que eu também já temia. Mas não deu nada.
Perto do fim do primeiro tempo estávamos em vias de achar um outro lugar, porém no meio da arquibancada, próximo ao risco central do gramado. Era recém encerrada a primeira etapa quando parecíamos estar bem localizados. Ocorre que caminhar por entre a multidão é uma tarefa nada fácil. “E então?” “Onde está teu pai?” “Ué, ele não tava contigo?” “Sim, mas ele me largou por ali assim e depois não o vi mais” “Ele deve ter ficado por ali, então” “Bahh...vou ver então...tu fica aí e eu vou achar ele” “Tá, eu seguro aqui o lugar” “Falou!”
Assim, basicamente se desencadeou o grande mistério que durou o intervalo e parte do segundo tempo. Até aí já tínhamos consumido boas doses o suficiente para darmos um tempo. A tensão começou a subir na medida em que os minutos se passavam e nada....nada....nada. Nem no reencontro, muito menos no jogo. O que era uma preocupação viraram duas. O time estava levando menos perigo ao gol paraguaio naquele momento, o que começava a causar angústia e outras coisinhas nada fáceis naquele momento. E quando eu me via tomado por aquilo, ouço um chamado a poucos metros de mim: “Ô meu....ô meeeuuuu....Ô PORRA!!!” “Hann...hein?!” “Vem junto aqui...achei ele já!” “Bah....feito!”
Sim, enfim o reencontro. Enquanto ele me contava por onde andou nas arquibancadas ( quase todo o espaço dela), era apontada uma falta pro Grêmio na direita de ataque. Ao terminar a explicação, formou-se um silêncio momentâneo ao redor. Aquela expectativa na qual em raras ocasiões se presencia. A bola é alçada por Sandro Goiano, ela vai com rapidez pra área, é acertada por uma cabeçada certeira no meio do bolo, ela vai mais rápida ainda, ameaça subir e no momento exato desce tal qual o zepelim em chamas e se esbalda na rede a estufando. A explosão, a euforia, o êxtase. Tudo isso potencializado na enésima potência culminou no instante seguinte. Abraçamos-nos como em raros momentos na vida se faz com alguém (sem segunda intenção, ok?). A emoção foi ao limite extremo, ou quase. Depois daquilo todos esperavam pelo final do jogo que estava bem longe ainda, ou quase. Houve chances para um segundo gol depois daí, o que seria mais justo. Mas aquele velho detalhe no qual só o futebol explica o impediu. E quase ocorre a tragédia quando vimos a bola no cruzamento do paraguaio passar sorrindo rente ao gol tricolor, mas de tão feliz não quis entrar. Melhor pra nós. Logo após aquilo, decretado o destino tricolor da classificação tão árdua e merecidamente conquistada para a próxima fase da Libertadores. Quanto a nós, saímos do estádio felizes e com a certeza de que sempre atingimos nossos objetivos quando estamos juntos. Agora vamos tocando o barco com decisões pela frente, já que o que nos espera é uma série de jogos de deixar os cabelos em pé, ou quase.
*Trilha - Near Wild Heaven - R.E.M. (pelo título) // Fruit Cake - Renato & seus Blue Caps

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