quinta-feira, 26 de abril de 2007

Fugindo do Inferno – ou Dando a Morta (Parte 1)


Não é à toa que o futebol carrega essa enormidade de místicas, superstições e afins. É o esporte mais popular do planeta sim. E com toda a justiça. Poucas coisas nos fazem revigorar crenças e fazer caminhar com sincronia corpo e alma. Ele pode tanto destruir como ressuscitar um dia que parece morto. Morto? Existem coisas que morrem de antemão? Podem até existir, mas não que seja de conhecimento de uma certa massa que se identifica com um certo clube com mais de 100 anos de história.
Em meio à polvorosa de má fase e notícias de origens duvidosas, chegava a noite de 20 de abril e essa tal massa estava ansiosa, porém um pouco descrente. É que seu clube se via numa situação delicadíssima. Tinha que fazer pelo menos 3 x 0 para levar a decisão da vaga para a final do Gauchão nos pênaltis (o que no começo de tudo já era improvável), ou então fazer 4 x 0 e comemorar. Sem contar a possibilidade de levar um gol e então ficar com encargo de fazer marcar um a mais para compensar o gol qualificado. Pois é, esse time da tal situação é o Grêmio. Aahhhh....devem pensar: mas ele já esteve em enrascada pior noutra vezes!! Sim, de fato, mas aqui há o agravante de que junto com a reversão de placar vêm a auto-confiança (muito baixa) e o tal ambiente carregado pelos fatores extra-campo já mencionados. Se bem que, como diz meu pai, uma coisa puxa outra. Mas vá lá.
Não parece mas, tudo isso junto e inflacionado pela responsabilidade de se manter na ponta de cima da “gangorra” afeta todo um grupo de jogadores e aflige a torcida inevitavelmente. Estranhamente eu e meu amigo chegamos ao bar e nos posicionamos todos muito tranqüilos. Parece que tudo escrito acima é pura balela, lembrando de como estávamos até o início do jogo. Acontece que NÓS ali desde muito antes tínhamos consciência de algo que também é fundamental, não apenas aos jogadores, mas para todas as pessoas. Trata-se do resgate do orgulho pessoal, do caráter limpo e livre de qualquer marca pesada. Há momentos em que ou nos impomos perante a dificuldade sem muito pensar, ou nos afundamos com nossos pesares. Para o Grêmio e seus atletas ficou exposta a primeira opção.
Logo no primeiro minuto todo e qualquer resquício de descrença que poderia repousar nas almas gremistas foi aniquilado. Ao ver o ímpeto irresistível do time combinado com o ritmo frenético do jogo, bastava saber quando viria o primeiro gol para, de vez, se imprimir a tal reversão “impossível”. E digo agora que ele até demorou!hehe... Ao que lembro foi aos 13 minutos de forma um tanto inesperada por Patrício(lateral direito) e seu chute de pé esquerdo, que aiiiinda desvia no zagueiro, o goleiro esboça reação ainda encostando na bola e enfim esta entra mansamente. Não podia ser mais simbólico este gol! A essa altura o adversário (Ahh sim!!) Caxias ainda não se fragava da enrascada na qual ELE se metia. Em menos de 5 minutos já se foram mais 2 chances e logo o segundo gol, esse sim sufocante (para o adversário). Então sucederam-se chances e chances de forma com que aquele sentimento presente em meu íntimo tomasse forma e cores tricolores e resultasse em uma dúvida de quando enfim seria revertida essa vantagem, de acordo com o que se via no jogo.
Bem, vamos com calma, afinal futebol não é mágica, mas chega muuuito perto disso algumas vezes. Perto do final do primeiro tempo veio enfim o terceiro gol e assim fora assinado o decreto de morte do time serrano. E o intervalo da partida foi o mais incrível e eufórico dos últimos tempos. Considerando que nosso rival um dia antes necessitava do mesmo placar e acabou se estrepando. Mas isso é para se comentar noutro momento. Em um instante pairou uma dúvida sobre se o time conseguiria manter o padrão celerado para o segundo tempo.
Isso foi respondido logo nos primeiros minutos da segunda metade do jogo. O ritmo continuou forte realmente. As coisas parecem se encaminhar para o imponderável prevalecer. Mas os minutos começam a passar...............passar.....................passar................e o tal gol não vem. Eis que no meio desse momento capicioso vem um jogador de camisa grená em alta velocidade com a bola. E ele passa pelos jogadores do Grêmio como quer e adentra a área com voracidade daquele criminoso impagável. Mal ele sabia que ali havia gente mais impiedosa que esse jogador, cujo nome não lembro agora. Resultado, chute abafado, corpo no chão e bola para escanteio. Foi este o grande momento de perigo sofrido pela equipe durante todo o jogo.
Bem, no intervalo, melhor, antes dele, foi dado o decreto da morte do Caxias, mas faltava o ato final, a ceifada definitiva. Bem, pois quando a (nova) dúvida começava a tomar corpo e forma, houve um cruzamento da esquerda para Tuta cabecear impiedosamente (agora sim!!) para o gol. Pronto! A guilhotina passou e então o tal ato improvável ou impossível tomou forma. Aquilo que estava preparado para ser um motivo de forte chacota virou mais um exemplo de que não se mexe com o brio da mística tricolor. Só depois do fim do jogo, ficou provado aquilo escrito no primeiro parágrafo sobre o futebol. Pode haver outras definições mais seguras e técnicas sobre ele. Mas eu prefiro essa que envolve mais o sentimental do que o racional. Valeu à pena até ter saído do bar sem pagar a bebida! Opa, mas isso não é Fair-play! Tá bem, afinal a noite já estava ganha!!
*trilha: Insterstellar Overdrive - Pink Floyd / Divino, Maravilhoso - Gal Costa
C.V.

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